O que mais há para escrever sobre Yves Saint Laurent, o protagonista incontornável da costura francesa? Tudo, ou quase. Pesada demais, a verdade do homem permanece oculta na parte sombria do mito. Quem era Yves, o pequeno argelino de olhos perspicazes? Um menino negligenciado, nascido com uma carga impossível de ser carregada nessa Argélia francesa estruturada pela depredação.
Como, em tal contexto, esse jovem pied-noir de classe média pôde elaborar o sonho de se tornar um estilista célebre? Marcado pelos traumas da violência que sofreu quando criança, Yves Saint Laurent foi movido ao longo de sua vida por um desejo vital de vingança, no qual a riqueza e a fama consolavam, mas a loucura sempre se impunha como força dominante.
Em O príncipe da Babilônia, a autora Marianne Vic - sobrinha de Yves Saint Laurent e próxima de seu companheiro, o empresário e colecionador de arte Pierre Bergé - conta, sob diversos ângulos, a história de um dos nomes mais significativos da alta-costura do século XX. A obra revela o percurso de um homem moldado pelo ódio de si mesmo e pelo desprezo do outro.
A narrativa é tecida entre glória e desolação, bordada com segredos. Entre o mito e a verdade, Marianne descortina um corolário de sevícias, infortúnios, humilhações, folias e apogeu criativo ? sexo e paraísos artificiais, cumes de cultura e arte, até a inevitável derrocada.
Testemunha privilegiada dos cenários da mítica residência parisiense da rue de Babylone, a autora nos oferece uma elegante catarse repleta de segredos de alcova. O príncipe da Babilônia, de Marianne Vic, permite olhar Yves Saint Laurent sob uma luz menos glamorosa, revelando o lado obscuro do estilista sem apagar o brilho de sua trajetória inigualável.