Único conto de Toni Morrison, iRecitatifi retrata a amizade de duas meninas na infância e os conflitos raciais que se impõem a elas quando se reencontram ao longo da vida. Narrado de forma a não revelar qual das personagens é negra e qual é branca, a história é ao mesmo tempo um experimento e uma provocação quanto aos códigos raciais na literatura. Twyla e Roberta se conhecem no abrigo de crianças e jovens St. Bonaventure, onde vivem por quatro meses enquanto esperam as respectivas mães estarem aptas a cuidarem delas novamente. Logo as duas se tornam inseparáveis, tanto pelos interesses - e problemas - comuns à idade como pela consciência de que, ao contrário dos outros internos, elas logo voltariam às suas casas. A amizade, porém, não perdura. Uma vez separadas, Twyla e Roberta se reencontram por acaso em três ocasiões distintas, primeiro jovens e depois adultas. Apesar das diferenças claras entre as duas, que perpassam não só conflitos raciais mas também de classe, há o laço incontornável da infância e do companheirismo em um dos períodos mais difíceis da vida delas. Único conto de Toni Morrison publicado, iRecitatifi traz duas personagens, uma negra e outra branca, sem dizer claramente qual personagem é qual. As falas e experiências das duas podem até dar a quem lê a impressão de diferenciar uma da outra, mas Morrison jamais confirma nenhum palpite. A ambiguidade da identidade e do que são considerados códigos raciais é explorado aqui com a maestria de uma das maiores escritoras de todos os tempos. O detalhe crucial é mantido em segredo. Este, então, é um conto quebra-cabeça - um jogo. Mas Toni Morrison não joga esse jogo. Quando Morrison chamou iRecitatifi de experimento, foi isto o que ela quis dizer. A cobaia do experimento é quem lê. - Zadie Smith, autora de iDentes brancosi, no posfácio deste livro.
